domingo, 16 de março de 2008

O remédio

Sexta-feira, dia 18 de maio, o Sistema do Penhor não funcionou. Mais uma vez ficamos com a cara de tacho diante dos clientes. Então percebemos que nossas desculpas estão em desuso, em estado de depreciação avançada. A culpa é do sistema há mais de dois anos.
Quando afirmei que o penhor estava fora do ar, mãe e filha se entreolharam e emitiram um leve sorriso de resignação.
- Fazer o quê? – comentou a filha.
Decidiram permanecer no recinto por mais alguns minutos. Na esperança de que o tal Sipen voltasse de sua caverna oculta. Resistiram 45 minutos e foram embora. Percebi uma tristeza em suas faces e se foram lentamente. Ombros caídos e andar trôpego.
Segunda-feira, como um seriado de enlatado americano, a cena se repetiu. Novamente o sistema não deu as caras na minha telinha social. O olhar triste e o sorriso de resignação de mãe e filha mais uma vez, também, se repetiu. Mais meia hora de espera e um tchau desanimado e seco.
Terça-feira à tarde ao serem comunicadas que o sistema ainda estava em estado de coma, elas nem sentaram, foram embora sem expressar um sinal de indignação. Nenhum esboço de raiva. Cabisbaixas, porta afora.
Quarta-feira o sistema voltou de seu exílio voluntário. Abrimos o dia fazendo contratos novos. O Sipen havia voltado do retiro espiritual. Era uma quarta-feira de cinzas da informatização do penhor.
Por volta das 14 horas, mãe e filha entram no recinto. Tão logo as vi, fiz um sinal de positivo. Um sorriso iluminou suas faces. Pegaram a senha e aguardaram sua vez.
Após receberem os R$ 256,00 referentes ao contrato efetivado, a filha comentou antes de sair.
- Finalmente, eu faço hemodiálise três vezes por semana e hoje conseguirei comprar meus remédios.
Então, percebi que suas poucas jóias era sua salvação e o penhor uma questão de vida ou morte.
E a culpa é sempre do sistema.