quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A colecionadora de maridos



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Era uma sexta-feira. Estava atendendo uma velhota pela quinta vez na semana, ou seja, ela veio ao penhor todos os dias e sempre a primeira a ser chamada. Ela consegue entrar antes da abertura da agência e fica nos olhando com aquela cara de tacho... ou de bunda, não sei.
O fato é que a segunda pessoa a ser atendida era uma loira. Não uma loira qualquer. Uma senhora loira, loiraça. Tinha os cabelos curtos estilo Rainha dos Baixinhos e um olhar inquieto. Estava com um minúsculo short preto e uma camiseta branca. Usava aparelho ortodôntico verde que fazia uma combinação perfeita com os olhos. Nada de brincos, pulseiras e colares. Somente um solitário no anelar da mão esquerda.
Isso tudo aguardando para ser atendida e uma velhota me embromando no guichê com uma montanha de quinquilharias para serem avaliadas. Até uma medalhinha do Papa João XXIII ela trouxe.
Consegui despachar a intragável e persistente senhora e chamei a segunda senha. Blim-Blom. E um belo par de pernas bronzeadas veio em minha direção. Devo confessar: ouvi o barulho das ondas do mar de Bombinhas.
Colocou sete alianças sobre a bancada.
– Deve ser de ouro... ganhei e usei como se fossem de ouro. Todas de ex! – sorriu.
Comecei a análise das alianças e, lógico, ler as inscrições internas dos nomes dos ex-maridos: Claudio, Ricardo, Gevinaldo, Bocão, Valdinho, Athos – um tocaio, bem entendido –, e Botão. Fiquei imaginando o perfil do Botão e a esperteza dos pais com o pobre do Gevinaldo.
– Uma coleção de alianças – comentei.
– Uma coleção de maridos. E a fila anda... já tenho 10 anos de casada e sete ex-maridos. Essa aí, ó – e apontou a aliança mais fininha – durou exatos dois meses. Era uma anta quadrada.
Por fim comentou que o atual marido preferiu dar um anel com solitário de 90 pontos e não quis saber de alianças. E que não deveria tirar do dedo. Mostrou o dorso da mão com o solitário.
Então, comuniquei que ela levaria algo em torno de R$ 800,00 pelas sete alianças.
– Oitocentos para mim? – e apontou com o indicador o próprio peito.
– Líquido. Os juros já estão descontados, agora pode comprar um presentinho para agradar o oitavo e atual marido – falei e pedi para confirmar o prazo de 30 dias.
– O atual marido mora em BH e o presente que ele está prestes a levar é uma galhada na testa se continuar dando uma de mineirinho quieto.
Pegou a grana e deu um tchauzinho – aquele tchauzinho que se dá apenas com os quatro dedos da mão – virou-se e saiu.
Eu fiquei pensando que nas próximas semanas faria um penhor de um solitário de 90 pontos...