Athos Ronaldo Miralha da Cunha
A senhora Dilmarina é cliente do penhor
muito antes desses confrontos eleitorais pela disputa para presidente. Mas nos
últimos tempos é motivo de gracejos, pois carrega no primeiro nome os nomes das
duas candidatas a presidente do Brasil. Ela é daquelas clientes simpática que gosta
de uma conversa. Mora sozinha num amplo apartamento no centro da cidade e é
temente a Deus. Chega na agência – ela faz um périplo nas gerências, habitação e
penhor – nos horários de pouco movimento e, com isso, a prosa fica espichada. Claro,
o assunto nos diversos setores é em quem a senhora Dilmarina votará.
– Se eu morrer, como ficam as minhas
joias? – ela estava dramática naquele dia.
– Calma a senhora tem muito tempo de
vida, ainda vai votar em muitas eleições.
– Nem sei se vou votar esse ano, não sou
obrigada.
Então, expliquei a situação dizendo que
os herdeiros precisavam quitar a dívida e encaminhar um alvará judicial. Dona Dilmarina
Lucinha Souto Menor [esse o nome completo] comentou que vivia sozinha, nunca se
casara e não tinha filhos. Tinha uma irmã a Maridilma, mais velha e viúva que
mora em Garibaldi. E falou que pretendia resgatar as joias antes de partir –
com o dedo indicador apontou para cima – para não deixar dívidas para a irmã.
Dona Dilmarina deixava as joias no
penhor, apenas, para guardar, levava o empréstimo mínimo. Usava como cofre de
aluguel. A violência da cidade a deixava amedrontada e pouco saía de casa. Mas toda
vez que saía de casa executava uma simpatia antes de fechar a porta do
apartamento. Chaveava e deschaveava – como ela falava – a porta, três vezes. Virou-se
de lado em pé diante do guichê e com uma chave imaginária diante de uma porta
imaginária rodou a chave três vezes.
– Meu bom senhor Jesus Cristinho, guarde
bem a minha casinha. Me leva e me traz. Me leva e me traz. Me leva e me traz. –
abriu a fechadura imaginária e fechou.
Olhou para mim, e sorriu.
– Meu bom senhor Jesus Cristinho, guarde
bem a minha casinha. Me leva e me traz. Me leva e me traz. Me leva e me traz. –
abriu a fechadura imaginária e fechou.
Olhou para mim, e sorriu.
– Meu bom senhor Jesus Cristinho, guarde
bem a minha casinha. Me leva e me traz. Me leva e me traz. Me leva e me traz. –
abriu a fechadura imaginária e fechou.
Olhou para mim, e sorriu.
Fiquei me imaginando abrindo e fechando
a porta da garagem três vezes antes de sair. E o cofre, então, com retardo de
10 minutos: meia hora para abrir.
Deu um tchauzinho e saiu. Virou-se e
falou.
– Ah! Eu me chamo Dilmarina, mas voto no
Aécinho, que homem bonito!
O que que eu vou dizer lá em casa...
– Mas a senhora não é obrigada... Ela
nem ouviu.
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